29 de dezembro de 2012

Coordenadora do Movimento Down defende educação inclusiva em escolas regulares


Em entrevista à rádio CBN, a advogada Maria Antônia Goulart, coordenadora do Movimento Down, defendeu a educação inclusiva em escolas regulares para crianças e adolescentes com síndrome de Down. A advogada também falou sobre a importância da estimulação precoce e da conscientização das famílias a respeito da necessidade de autonomia e independência dos filhos com a trissomia.
Segundo a representante do Movimento Down, o desejo de proteger os filhos faz com que os próprios familiares limitem seu potencial. Isso acontece, por exemplo, na hora de matricular a criança em uma escola regular. “No caso das crianças com síndrome de Down, a inclusão é muito importante. Temos visto diversos exemplos positivos de crianças que estão incluídas, inclusive na rede pública de ensino, com resultados acadêmicos muito satisfatórios. Às vezes, a família tem medo, achando que a criança não vai se desenvolver bem ou o professor não vai saber lidar com ela. O que vemos na prática é o contrário, as escolas tem conseguido cada vez mais dar respostas”, afirmou.
A coordenadora do Movimento Down também falou sobre uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro para investigar exemplos de educação inclusiva na rede pública da cidade. “Estivemos hoje em reunião com o Instituto Helena Athipof  identificando as boas práticas aqui do Rio para sistematizá-las em um caderno de apoio para escolas e professores”.
Para Maria Antônia Goulart, um dos principais fatores que influenciam no aprendizado de uma pessoa com síndrome de Down é o incentivo por parte da família. “Os pais têm que acreditar que seu filho é capaz de aprender, assim como as escolas também precisam acreditar na criança”.
Outra questão importante é a estimulação essencial desde o nascimento. “A Beatriz, minha filha, começou esse trabalho com 15 dias de vida, o que faz uma diferença muito grande. Infelizmente muitas crianças não têm acesso a estímulos na idade certa e acabam não desenvolvendo todo o seu potencial”, lamentou. A advogada lembrou ainda que os próprios pais devem particfipar – na seção “dicas para fazer em casa”, é possível encontrar vários exercícios.
Na adolescência e na vida adulta, um dos grandes desafios das pessoas com síndrome de Down é conquistar a independência. De acordo com a representante do Movimento Down, o apoio dos familiares é fundamental para superar mitos, como o da impossibilidade de ter uma vida sexual ou constituir família. “Quando as pessoas são bem orientadas, fortalecidas, têm condição de ser independentes, trabalhar, ter uma vida plena dentro da realidade delas”, ressaltou.

Homenagem de Fim do Ano




Primeiro aluno com Down na UFG vira exemplo de superação para familiares, professores e colegas


Em fevereiro deste ano, o Terra contou a história de um jovem que, aos 21 anos, tornou-se o primeiro estudante com síndrome de Down aprovado no vestibular da Universidade Federal de Goiás (UFG). Passados 10 meses, o fato inédito transformou-se em um exemplo de superação para professores e alunos da instituição. Kallil Tavares está no segundo semestre do curso de geografia no campus de Jataí (GO) e contou, em entrevista por telefone, que está "feliz e com muitos amigos".
A pedagoga Eunice Tavares Silveira Lima, mãe de Kallil, concorda que ele foi bem recebido tanto pelos professores quanto pelos colegas. "Claro que a discriminação existe em todos os lugares, na universidade não é diferente. Algumas pessoas ficam olhando de lado, não se manifestam, mas, em compensação, tem muitos amigos especiais, que participam, ajudam".
Apaixonado por mapas, Kallil decidiu fazer o vestibular para geografia no ano passado, após concluir o ensino médio em uma escola privada de Jataí. Incentivado pela mãe, ele conseguiu a aprovação, sem correção diferenciada - concorreu em condições iguais a todos os demais candidatos.
No primeiro semestre, Kallil conseguiu aprovação em cinco das oito disciplinas. "Em maio eu percebi que ele estava tendo dificuldades em algumas aulas mais teóricas, então resolvemos trancar uma disciplina. Em outras duas ele acabou reprovando", afirma a mãe. Apesar disso, Eunice se diz "surpresa" com o desempenho do filho na faculdade. "A universidade é outro ritmo, bem mais corrido. São muitos textos, conteúdos mais complexos do que ele estava acostumado na escola. Mas estamos muito felizes por ele estar conseguindo acompanhar", afirma ao ressaltar que o filho não tem nenhum tipo de privilégio nas avaliações. "Ele faz a mesma prova que todos os outros".
Questionado sobre o que mais gosta na universidade, Kallil não vacila em afirmar: "astronomia, geologia e dos mapas". Segundo a mãe, as aulas práticas despertam mais interesse do filho. "É mais fácil para ele quando consegue aprender com algo concreto, como vídeos e imagens. Em geologia, por exemplo, ele participou de uma aula de campo e voltou para casa cheio de rochas que coletou", conta.
No começo do curso, Kallil teve auxílio de uma monitora, uma colega de curso que auxiliava o jovem na leitura dos textos e explicava os conteúdos passados pelos professores. No entanto, no segundo semestre ela acabou desistindo da bolsa paga pela universidade e agora a UFG tenta conseguir outro monitor. A mãe espera que o problema seja resolvido logo, já que sem a monitoria fica mais difícil garantir o aprendizado.
De acordo com o professor da Faculdade de Educação e coordenador do Núcleo de Acessibilidade da UFG, Ricardo Teixeira, a faculdade de geografia está empenhada em conseguir, o mais breve possível, um novo monitor para Kallil. Para Ricardo, a história de superação do estudante é um exemplo para a universidade, que tenta incluir cada vez mais alunos com deficiências físicas e intelectuais.
Neste ano, outro jovem com síndrome de Down ingressou na UFG, mas não pelo vestibular. O estudante do curso de matemática, cujo nome a universidade não divulga a pedido da família, conseguiu a aprovação pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), por meio da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). "Há quatro anos tínhamos apenas 10 alunos com algum tipo de deficiência na UFG, hoje são mais de 100. Esse movimento a gente espera aumentar ainda mais, com exemplos como o do Kallil", diz o professor.
De acordo com ele, não houve resistência por parte dos professores em dar aula para um aluno com Down. "Essa resistência ao novo é algo comum, mas surpreendentemente não enfrentamos isso com os professores da geografia. Não houve nenhuma rejeição e todos tentam se empenhar ao máximo para garantir que ele tenha um bom aproveitamento", afirma. No entanto, Teixeira lembra que a estrutura física e o acompanhamento oferecido aos alunos com alguma deficiência ainda precisa melhorar. "Isso é algo que estamos em constante construção".
Para Eunice, contudo, a família não cria expectativas e não pressiona o jovem para ser aprovado e concluir logo o curso. "Se for em quatro ou em 10 anos, tanto faz. O importante é que ele se sinta feliz".
Planos para o futuro
Na conversa com o Terra, Kallil disse que seu sonho é ser professor de geografia. Ele ainda tem uma longa jornada pela frente, já que as aulas do segundo semestre começaram faz pouco por causa da greve dos professores. Mas determinação e vontade de vencer não faltam, mesmo que alguns ainda duvidem.
"A sociedade tem dito historicamente para essas pessoas (com síndrome de Down) que elas não são capazes, mas essas pessoas estão mostrando que sim, que são capazes. O exemplo do Kallil é muito importante para termos consciência que qualquer pessoa que tenha oportunidade, que é estimulada, consegue", afirma o professor da UFG.
Eunice sempre acreditou que o seu menino era capaz de chegar a universidade e de alcançar muito mais. Mas hoje ela diz que a maior alegria da vida é ver o sorriso no rosto do filho todos os dias enquanto se prepara para a aula. "Ele está feliz, não tem nada melhor para uma mãe que ver um filho feliz".
Por Angela Chagas/Portal Terra